segunda-feira, 24 de abril de 2017

Emmanuel Macron e Marine Le Pen vão disputar 2º turno presidencial na França

O 2º turno da eleição presidencial será disputado por Emmanuel Macron, de centro, e Marine Le Pen, da extrema-direita. François Fillon, dos republicanos, e Jean Luc Mélenchon, socialista, ficaram de fora, num resultado histórico. Às 22h30 (hora de Brasília), com 98% das urnas apuradas, Macron tinha 23,86% dos votos e Le Pen, 21,43%. François Fillon, terceiro colocado, tinha 19,94% e admitiu derrota. Jean-Luc Mélenchon ficou com 19,62%.

"Enquanto nosso país está passando por um momento único em sua história, marcado pelo terrorismo, os desafios econômicos e ambientais, sofrimento social, ele respondeu da forma mais bonita, votando maciçamente. Ele decidiu me colocar na liderança no primeiro turno das eleições", disse Macron a seus eleitores.

Macron e Le Pen vão ao segundo turno das eleições na França

Le Pen afirmou a seus apoiadores que esta eleição é histórica e que a França não terá mudança com o "herdeiro de Hollande", referindo-se a Macron. Ela criticou a globalização e afirmou que é hora de os franceses se tornarem livres da elite arrogante. "A sobrevivência da França está em jogo", disse, ao pedir que os "patriotas" a apoiem.

Macron é favorito para vencer Le Pen no segundo turno, em 7 de maio. Uma pesquisa realizada na manhã seguinte ao primeiro turno mostra o candidato centrista derrotando a candidata de extrema-direita por 61% a 38%. Em outras duas pesquisas realizadas no domingo à noite, ele aparece com 62% e 64% das intenções de voto, respectivamente.

Os grandes derrotados da noite, o conservador François Fillon e o socialista Benoît Hamon, anunciaram imediatamente que votarão no social liberal para evitar assim o triunfo da extrema direita. Após assumirem o desastre que representa para seus partidos ficarem fora do segundo turno, ao mesmo tempo, pela primeira vez na V República Francesa (instaurada em 1958), ambos reconheceram sua responsabilidade pessoal nos resultados.


Contagem de votos em Tulle, na França (Foto: Regis Duvignau/Reuters)

A última vez que a esquerda deixou de ter um candidato no segundo turno foi nas eleições presidenciais de 2002, disputadas por Jacques Chirac (conservador) e Jean-Marie Le Pen (extrema direita e pai da atual candidata Marine Le Pen).

"É uma derrota moral para a esquerda", afirmou Benoît Hamon, candidato derrotado do Partido Socialista (PS), que também defendeu o voto em Macron no segundo turno.

Mélenchon também se pronunciou publicamente, mas explicou que aguardaria a oficialização dos resultados para dar mais detalhes de seu posicionamento.

O segundo turno, que será realizado no próximo dia 7 de maio, permanece cercado de expectativa. Isso porque o resultado pode levar ao enfraquecimento ou até mesmo ao fim da União Europeia e da zona do euro. Macron defende a permanência da França no bloco. Já Le Pen apoia o chamado Frexit -- a saída do país do mercado comum.

O tema teve destaque na campanha em meio à discussão sobre o Brexit, a saída do Reino Unido da UE. A crise migratória no continente também levanta debates sobre a proteção das fronteiras. A França, juntamente com a Alemanha, é um dos países fundadores da UE e chamada de "locomotiva" da construção do bloco.

Campanha tumultuada

França vai às urnas com os nervos à flor da pele após atentado

A campanha presidencial foi tumultuada desde o início, quando as primárias partidárias tiveram resultados inesperados, afastando os principais favoritos à presidência – o conservador ex-presidente Nicolas Sarkozy e ex-primeiro-ministro Alain Juppé (do Republicanos) e Manuel Valls (Partido Socialista).

A ascensão do movimento “En Marche!”, de Macron, e escândalos de corrupção envolvendo Marine Le Pen e François Fillon também contribuíram para tumultuar a campanha.

Tiroteio

Um dos episódios marcantes no fim da campanha eleitoral dos candidatos foi o ataque na Avenida Champs Élysées, que deixou um policial morto e dois feridos na última quinta-feira (20).

O episódio na avenida mais famosa da capital francesa colocou a segurança nacional no topo da agenda. Candidatos com pontos de vista mais duros sobre segurança e imigração, como Len Pen e Fillon, podem ter ganhado um impulso maior entre alguns grupos de eleitores.

Veja quem são os candidatos do 2º turno:

Emmanuel Macron


Centrista Emmanuel Macron lançou movimento ‘Em Marche!’ (Foto: Jacky Naegelen/ Reuters)

Enquanto François Fillon sofria as consequências do escândalo envolvendo sua mulher, o centrista Emmanuel Macron, de 39 anos, surgiu como candidato que poderia derrotar Le Pen em um segundo turno.

Filho de médicos que atuam na saúde pública, ele nasceu em Amiens, no norte da França. Trabalhou em um banco de finanças e se engajou na campanha de François Hollande em 2012. Tornou-se secretário-adjunto e, então, o ministro da Economia do governo Hollande.

É de sua autoria o projeto de lei que pretende impulsionar a economia francesa por meio de medidas como ampliação do trabalho dominical e modificação das condições do exercício de várias profissões liberais, como os tabeliães e os oficiais auxiliares de Justiça. A “Lei Macron”, como ficou conhecida, foi implementada por decreto e provocou protestos até de integrantes do Partido Socialista. Foi a primeira vez desde 2006 que o governo driblou o legislativo para impor uma lei.

“Quero ser o presidente dos patriotas frente à ameaça dos nacionalistas”, diz Macron

Em maio de 2016, ele lançou o movimento cidadão “En Marche!”, que tem suas iniciais, com o objetivo de “refundar” a França com o apoio popular. A saída de Macron do governo para disputar as eleições foi vista como um golpe contra Hollande.

Rumores

As insinuações de que ele tinha um caso extraconjugal com o executivo-chefe da Radio France, Mathieu Gallet, circulam há anos e, recentemente, se tornaram alvo da mídia. Durante a campanha, Macron negou veementemente os rumores.

Em seu programa de governo, Macron promete “tolerância zero” contra o crime e o combate ao terrorismo. Para os próximos 5 anos, ele propõe reforçar a guarda de fronteira, criar de 10 mil postos de policiais e 15 mil vagas em prisões para abrigar pessoas envolvidas com terrorismo.

Competitividade

O candidato quer reduzir o imposto que incide sobre as empresas (de 33,3% para 25%) para tornar o país mais competitivo e reduzir as despesas públicas progressivamente até atingir o nível recomendado pela União Europeia. Ele propõe alterar a cobrança do imposto sobre grandes fortunas - visto como bandeira da esquerda - e exonerar 80% dos lares franceses do imposto sobre moradia. Macron tem ainda uma proposta de mudança no seguro desemprego: os desempregados teriam que passar por uma avaliação de competência e seriam obrigados a aceitar uma vaga de trabalho quando recebessem uma segunda oferta.

Embora proponha maior controle nas fronteiras, Macron defende engajamento com a União Europeia e diz assumir sua “justa parte” na acolhida de refugiados diante da maior crise na imigração que o continente enfrenta desde a 2ª Guerra Mundial. Ele defende uma reformulação das condições de pedido de asilo e promete uma decisão em oito semanas para todos os pedidos.

Marine Le Pen


Candidata Marine Le Pen fala durante evento de campanha em Marselha, na terça-feira (19) (Foto: Michel Euler/ AP)

Com retórica anti-imigração e contra a União Europeia, a candidatura de Marine Le Pen ganhou força com o descontentamento dos eleitores com o governo do socialista François Hollande.

Marion Anne Perrine Le Pen, de 48 anos, é a presidente da Frente Nacional, partido fundado pelo seu pai, Jean-Marie, sigla que ganhou espaço principalmente desde as últimas eleições presidenciais. No primeiro turno de 2012, Marine conseguiu um índice surpreendente de votos para a extrema direita (18,12%), mas perdeu a vaga no 2º turno para o ex-presidente Nicolas Sarkozy, que acabou perdendo para Hollande.

A candidata representa uma certa renovação das propostas do partido, que tenta se afastar, pelo menos parcialmente, de ativistas antissemitas, homofóbicos ou nostálgicos da colaboração francesa com a Alemanha nazista. Ela ainda propõe a modernização do país através de controversas reformas econômicas e da repressão contra a imigração ilegal, que na França atinge de maneira especial muçulmanos e africanos.

Marine Le Pen faz discurso após o encerramento do 1º turno das eleições na França

Anti-imigração

Como o americano Donald Trump fez nos Estados Unidos, Marine tem como um de seus cavalos de batalha a defesa de políticas restritivas de imigração para combater o terrorismo no país, que já foi alvo de violentos ataques do Estados Islâmico em Paris e Nice nos últimos anos.

Outra proposta que provocou polêmica durante a campanha foi a de acabar com a escola gratuita para filhos de imigrantes ilegais em uma estratégia para facilitar a expulsão dessas famílias do país. A candidata mantém algumas de suas principais promessas de 2012, como a flexibilização das leis de trabalho com o objetivo de abrir espaço para acordos setoriais. Entre as propostas, está o aumento da jornada de trabalho de 35 para 39 horas semanais, segundo a revista “Le Point”.

Ela defende também uma reforma da relação da França com a União Europeia, com o objetivo de reduzi-la a uma enfraquecida cooperação entre nações, sem uma moeda comum e zonas de livre circulação de pessoas. Como é provável que os outros integrantes do bloco não aceitem as concessões, ela já prometeu um referendo sobre a permanência francesa na União Europeia, seguindo o exemplo do Reino Unido, que prepara o seu afastamento após consulta popular.

Escândalo

Em janeiro, Marine foi acusada de usar 340 mil euros recebidos do Parlamento Europeu para pagar despesas pessoais de dois funcionários da Frente Nacional. O salário dela foi cortado pela metade para cobrir o suposto desvio do dinheiro. O escândalo não parece ter prejudicado o desempenho da candidata.

No início de março, o parlamento europeu suspendeu a imunidade parlamentar de Le Pen por causa da publicação de fotos de violência do Estado Islâmico em seu Twitter, mas a decisão não influenciará o processo sobre empregos fantasmas.

Carreira

Marine Le Pen nasceu em Haut-de-Seine, na região parisiense. Quando tinha 16 anos, sua mãe abandonou sua casa para fugir com um jornalista que estava escrevendo a biografia de seu pai. Esse episódio fez com que ela se aproximasse do pai. Desde os 13 anos, ela já o acompanhava em comícios. Aos 18, se filiou ao partido.

Ela estudou direito em uma das melhores faculdades francesas em sua área - Universidade Paris II- Panthéon-Assas.

A primeira eleição legislativa em que ela concorreu foi a de 1993. Apesar da votação significativa, ela não conseguiu se eleger e, então, passou a articular associações-satélites com o objetivo de mudar a imagem do partido.

Braço-direito do pai, foi nas eleições de 2002 que ela fez suas primeiras intervenções na televisão. Nos anos seguintes, seu poder de influência aumentou consideravelmente.

A relação com o pai, porém, ficou profundamente abalada após Jean-Marie Le Pen afirmar que a morte de judeus em câmaras de gás na Segunda Guerra Mundial foi apenas um detalhe. A declaração motivou a sua expulsão do partido. 
 
FONTE:G1/POLÍTICA INTERNACIONAIS

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