sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Raduan Nassar recebe Prêmio Camões e critica governo Temer


SÃO PAULO - Vencedor do Prêmio Camões de Literatura, concedido anualmente a um escritor de língua portuguesa, o autor de "Lavoura arcaica" Raduan Nassar, de 81 anos, aproveitou seu discurso de agradecimento na cerimônia de entrega para fazer críticas ao governo de Michel Temer. O evento de premiação aconteceu na manhã desta sexta-feira no Museu Lasar Segall, em São Paulo, e contou com a presença do ministro da Cultura, Roberto Freire.

Raduan foi apresentado por Helena Severo, diretora da Biblioteca Nacional. Em seu discurso de boas-vindas, ela errou o sobrenome do escritor — o chamou de Nasser e não Nassar — e foi corrigida por ele. Aos 80 anos, ele foi escolhido por unanimidade e se tornou o 12º brasileiro a receber o prêmio, considerado o mais importante da língua portuguesa. Receberá 100 mil euros.

Em seu discurso, o escritor afirmou: Infelizmente nada é tão azul no nosso Brasil. Vivemos tempos sombrios". Agradeceu a presença de Freire, a quem se referiu como "ministro do governo em exercício", causando uma saia justa para o político.


O embaixador de Portugal, Jorge Cabral, o escritor Raduan Nassar e o ministro da Cultura Roberto Freire - Agência O Globo

Criticou ainda o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello por ter mantido a nomeação de Moreira Franco a ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência. Raduan acusou o STF de usar "dois pesos, duas medidas", referindo-se ao que considera diferença de tratamento dado a Moreira e ao ex-presidente Lula, ambos envolvidos em denúncias da operação Lava-Jato. Enquanto Lula não pôde assumir a Casa Civil no governo de Dilma Rousseff, Moreira foi autorizado a se tornar o ministro-chefe de Temer. A mudança de status lhe dá direito a foro privilegiado.

— É esse o Supremo que temos, ressalvadas outras exceções. É coerente com seu passado à época do regime militar. O mesmo Supremo proficiou a reversão da nossa democracia sobre o impeachment de Dilma Rousseff. O golpe estava consumado, não há como ficar calado — disse o autor, que criticou ainda a indicação de Alexandre de Moraes (a quem chamou de "figura exótica") para a vaga do STF.

Estavam presentes também os escritores Milton Hatoum e Estevão Azevedo, entre outros, e o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim.

‘O golpe estava consumado, não há como ficar calado’
- RADUAN NASSAREscritor

ROBERTO FREIRE RESPONDE ÀS CRÍTICAS E DISCUTE COM PLATEIA

Após o fim do discurso de Raduan — encerrado com a frase: "o golpe estava consumado, não há como ficar calado" e embalado por aplausos e gritos de "Fora Temer" —, o ministro Roberto Freire se manifestou, dirigindo-se à plateia. Disse que "estamos vivendo um momento democrático e que é muito diferente do período de ditadura". Foi vaiado e contestado por parte do público que lotou o pátio do Museu Lasar Segall.

Freire chamou a narrativa do golpe de "estultice". Criticou os manifestantes dizendo que "é fácil fazer manifestação num governo como este, democrático". Ele chegou a ser interrompido por críticos como a ex-ministra Marilena Chauí, mas continuou:

— Quem dá prêmio a adversário político não é a ditadura.

‘Quem dá prêmio a adversário político não é a ditadura’

- ROBERTO FREIRE Ministro da Cultura

Disse ainda que "o prêmio é dado pelo governo democrático brasileiro e não foi rejeitado" pelo autor. O Camões é concedido pelos governos de Brasil e Portugal, e foi oferecido a Raduan em maio, ainda durante o mandato de Dilma.

Presidente da editora Companhia das Letras, que publica os livros de Raduan Nassar, Luiz Schwarcz disse que esperava isso do escritor, já que ele está "muito tomado pela questão política":

— Eu só acho que o cerimonial errou ao colocá-lo para falar em primeiro lugar. E também que o ministro errou ao entrar no debate político, mas também acho que o público deveria ter deixado que ele falasse.

Em março do ano passado, Raduan participou de um ato público, junto com outros artistas, para defender a legalidade do governo da ex-presidente Dilma Rousseff. Na época, o processo tramitava no Congresso Nacional.

FONTE:O GLOBO


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