domingo, 26 de fevereiro de 2023

Brasil se prepara para aderir ao Real Digital

 


O comerciante Raimundo Alves, de 63 anos, gosta de ter um dinheirinho guardado na carteira. “Uso muito cartão de crédito, débito e PIX, mas sempre tenho uma quantia no bolso. Me sinto mais seguro, caso ocorra uma emergência”, contou. Para isso, de vez em quando ele se dirige a um caixa eletrônico para sacar a quantia que julga necessária.Essa é uma atitude que muita gente ainda cultiva, mas pode estar cada vez mais com os dias contatos. Com a chegada de novas formas de pagamento, como foi, inicialmente com os cartões de débito e crédito e, mais recentemente, com o PIX, o uso do dinheiro em espécie tem sido um pouco mais restrito. A situação será ainda mais rara se a moeda digital for implementada de vez no Brasil, o ato de ter dinheiro no bolso, literalmente, vai acabar. “Tudo hoje é muito tecnológico. Não duvido que logo isso seja uma realidade, mas eu prefiro a sensação de pegar no dinheiro”, explicou o comerciante.Países como Suécia e China já têm moeda digital. O fato é que está cada vez mais perto de o Brasil também aderir à ideia e o Real Digital virar uma realidade. Um dos primeiros testes do projeto piloto, desenvolvido por um consórcio que tem à frente o Mercado Bitcoine, e que projeta transações contemplando a versão tokenizada da moeda brasileira e ativos digitais em blockchain pública, foi concluída no início deste mês, com segurança e nos termos aceitáveis de rastreabilidade, privacidade e compliance do Banco Central (BC).


Os resultados dessa simulação, que ocorreram no Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas (Lift), laboratório virtual que promove protótipos de inovação financeira e tecnológica do BC, auxiliarão a instituição a definir as funcionalidades e o desenho da nova moeda. Segundo o BC, um relatório final sobre os projetos estudados será divulgado no dia 25 de abril. Ainda no primeiro semestre de 2023 o projeto passará à etapa de piloto, onde, com a participação de entidades supervisionadas pelo BC, efetuará testes de infraestrutura e privacidade.Os testes envolveram todas as etapas de transações, como cadastro e verificação de informações contra fraude e ferramentas de validação e gestão de identidade digital. O processo contemplou ainda a emissão e gestão dos ativos digitais, gerenciamento de carteiras e de chaves. Nas transações, é possível ter controles e rastreabilidade dos ativos, endereços, chaves e identidades para atender as exigências regulatórias. Outro objetivo dos testes foi permitir que usuários sem experiência prévia com carteiras digitais e plataformas de criptoativos conseguissem fazer as transações de forma segura e amigável.

Novidade apresenta vantagem e desvantagem

Para Dan Stefanes, da Blockchain One, a novidade tem vantagens e desvantagens. “A desvantagem é que o dinheiro sairia da forma física, o que é costume de muita gente que terá que passar a conviver com o dinheiro virtual, uma vez que o real físico sairia do mercado. Já entre as vantagens estão o fato de a moeda digital ser mais forte para evitar fraudes e potencializar o e-commerce, além da inclusão de um número grande de pessoas que não tem acesso a serviço bancário e terão ainda mais com a moeda digital”.

No início, segundo ele, seriam dois ativos, convencional e digital, movimentando no mercado. “A tendência é que como já existem várias criptomoedas, o crescimento do movimento digital é inevitável, pois vai chegar um ponto que não teremos como fazer nada sobre esse tipo de aplicativo”, disse.O especialista explica que a moeda digital será diferente do PIX, pois este é apenas um meio de pagamento e transferência, e que, entre as vantagens, quem for realizar compra fora do país não precisará pagar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), uma alíquota paga por pessoas físicas e jurídicas em diversas operações financeiras no Brasil. Ele lembra ainda que a moeda digital seria uma economia para o país, que gasta muito na impressão da moeda física todos os anos. Segundo o BC, o custo gira em torno de R$ 90 bilhões por ano.

Moeda pode aumentar a acessibilidade

De acordo com economista, a moeda digital será benéfica para a estrutura econômica brasileira. Com o Real Digital, a expectativa é de que se tenha mais acessibilidade e redução da burocracia no processo de impressão do dinheiro

Atualmente, o caminho do dinheiro em espécie passa, necessariamente, pelo Banco Central. A instituição solicita e autoriza a emissão de dinheiro em quantidade suficiente para atender às necessidades dos consumidores e das empresas, mantendo a quantidade de cédulas e moedas aderente ao ritmo da economia.Após a fabricação, as notas e moedas seguem para o Banco Central (BC). De lá, são encaminhadas ao Banco do Brasil, que é contratado para distribuir o dinheiro entre os demais bancos. Por esse trabalho, fiscalizado pelo BC, o distribuidor é chamado de custodiante. Além disso, o Banco do Brasil ajuda o Banco Central também no serviço de recolhimento de notas e eventualmente moedas em mau estado ou suspeitas de falsificação. Ao receber as cédulas e moedas recolhidas pela rede bancária, o Banco Central promove o chamado saneamento do meio circulante: analisa as notas e as moedas e destrói as que não tiverem condições de circular.

Maior acesso

O economista Thomaz Bianchi, sócio da M7 Investimentos, acredita que a moeda digital será benéfica para a estrutura econômica brasileira. Para ele, o Real Digital será a moeda digital oficial do país, cuja finalidade é conferir acessibilidade e desburocratizar o processo de impressão de dinheiro no Brasil. “É um custo muito alto, e hoje quase todo mundo tem acesso a aparelhos digitais, ou seja, a acessibilidade já é muito grande mesmo em lugares remotos do país, o que facilitaria”, destacou.

O especialista disse ainda que vê a medida como positiva. “Acredito que é algo positivo, há algumas iniciativas no mundo, e isso tem se mostrado de forma eficiente e desburocratiza o processo. Vejo como positiva iniciativa em termos de facilitar e trazer tecnologia para o país”, disse. (Crisley Cavalcante)


FONTE:O OTIMISTA

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